quarta-feira, 21 de outubro de 2009

indivi-DUALISMO

Bons ventos. Bem vindos.
O último texto foi a chuva que trouxe. Hoje começo com uma frase que ouvi dentro do ônibus dois ou três dias atrás, enquanto outra chuva ameaçava começar a cair. Não virou temporal, foram só pingos e leves e nada mais. Eis a frase de uma senhora: "Podia pelo menos esperar eu chegar em casa pra começar a chover". Não vi o rosto da moça nem o tipo físico. E a chuva nem me interessava tanto no momento. Ainda estava com a janela aberta, não me incomodava em nada. Mas a frase ficou na cabeça.

Já molhei demais na última postagem, portanto dessa vez o assunto é a a voz da mulher ressoando na varanda. Fiquei me perguntando: quem seria aquela mulher a quem a chuva devia esperar chegar em casa para começar a cair? Por que logo ela? Seria uma escolhida pelo céu para comandar o tempo? Teria ela uma varinha mágica que, quando apontada para o céu, o tempo mudava conforme sua vontade e naquele dia a tal varinha estava em casa e uma criança brincando com os poderes mágicos? Com quem exatamente ela falou isso? Será que ela estava presente na criação do universo e aprendeu a criar a chuva? Tinha feito chapinha naquele dia? Ou será que era só uma senhora muito individualista? Vou escolher a última opção...

Já ouvi essa mesma frase inúmeras vezes saindo da boca de minha progenitora, não nego. Mas só quando essa voz disse isso reparei na indivualidade que ela traz. A chuva deve esperar que ela esteja protegida, já quanto aos demais... Molhem-se, fiquem ilhados, inundem suas casas, afoguem-se com cada uma das gotas, percam seus bens depois de temporais, fiquem resfriados e gastem com remédios, percam o incrível e caro resultado da chapinha marcada no salão há 15 dias. Entendi tudo isso naquela frase. Me senti ameaçado e preocupado. Será que foi comigo? Não, não exatamente. Foi comigo e com o resto do mundo. Mas, cara senhora desconhecida, fique sabendo que o resto do mundo, em algum momento, já desejou o mesmo pra ti.

Existem situações em que quase qualquer um esquece que o resto do mundo existe e só pensa na própria vida, ainda que isso interfira na vida dos demais. Indiretamente. Quantas vezes um barulho na casa do vizinho incomoda a ponto de querermos explodir a casa ao lado? Coitado, só está montando uma nova estante comprada em 12 vezes. Por que um acidente com um parente próximo e não com o chefe rabugento do escritório? Logo o chefe rabugento que não dirige embriagado como aquele parente... É a privação da felicidade alheia para nossa própria felicidade.

Queremos que o mundo faça tudo à nosso favor, que embeleze nossa vida, ainda que, volto a repetir, nem lembremos que há necessidades em volta no nosso umbigo. Não queridos, se alguém pode viver com muito conforto, viva. Mas que esse conforto não venha da infelicidade alheia. Ou que venha, se você definitivamente não é um humano direito. Quem sou para saber o que é agir corretamente ou não... Mas desconfio do que seja certo e do que seja errado. As aulas de Moral servem para alguma coisa. A vida serve para alguma coisa. As vidas servem!

Volto a imaginar a senhora da frase no ônibus, a toda poderosa, senhora tempestade... Será que ela se sentiria mal em saber que alguns não conseguiram sobreviver àquela que poderia virar tempestade? Sentiria pena? Mostraria tristeza? Compaixão? Diria "uma pena, coitado, por que não me mandou em seu lugar"? A mesma individualista, momentos depois pode se mostrar a mais "grupal" das criaturas, que só vive em comunidade e interage com todos, tratando a todos como trataria a si própria... Nossos personagens, nossas faces más e boas...

São momentos de ódio profundo, de alegria extrema, de individualidade, de companheirismo, de sim, de não, de posso, de não posso, de simplicidade, de vaidade... Pessoas diferentes uma das outras e inúmeras diferenças dentro de si mesmas... Momentos.. como cantava Raul "se hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou; se hoje eu te odeio, amanhã lhe tenho amor... eu sou ator"

Não dói pensar na frase da senhora, confesso, foi uma frase tão simples, sem pensar muito... só segui até meu ponto, fechei a janela, dei o sinal, o ônibus parou e desci. Nada me aconteceu, acho que a chuva resolveu ser boazinha comigo... não molhou tanto.

Confesso.. não pensei nos que ainda ficaram no ônibus.

Acabo de me preocupar, o que será que aconteceu? Ah, não ouvi notícias.. acho que posso deitar tranquilamente a cabeça no travesseiro.


Já nossos companheiros do Executivo... não sei não, hein... vejo notícias todos os dias nos jornais...

Até a próxima. Bons ventos.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Chove lá fora e aqui...

Sete dias depois da última postagem, uma nova aparece. O número 7... Bem, pra mim não significa nada, foi apenas para iniciar a conversa. Ma se alguem de vocês, queridos leitores, se interessa por numerologia e prevê que com isso minha vida pode mudar, favor informar...

Como sempre, até por ser o nome do blog, foi o vento que me trouxe aqui para escrever e fazer idéias voarem. Mas o vento de hoje é diferente. Está acompanhado com a chuva. Escrevo isso porque hoje choveu muito por aqui e cheguei à conclusão de algo que já vinha desconfiando há tempos: o guarda-chuva serve apenas para proteger a sobrancelha durante essas grandes "quedas d'água".

A chuva chega e quase sempre não estamos preparados para ela. Não queridos, não vale dizer "tô sempre preparado, ando sempre com sombrinha na bolsa", isso é nada. Quem chegou primeiro, a água ou nós? Até onde entendo somos nós que devemos nos adaptar a ela... Pois bem, a chuva começa a cair, pequenos pingos, leves, sutis, nem assustam a quem precisa ir de um lugar a outro. "Essa é a chuva? Vou fácil..", diz algum suposto corajoso. Instantes depois e as gotas já estão mais largas e o volume muito maior. Vem o vento junto. A água batendo em telhas começa a fazer o som necessário pra mostrar a força da chuva. Agora o corajoso já não tem tanta coragem como tinha antes quando a chuva parecia um pequeno impecílio. A chuva aumentou e ainda há necessidade urgente de ir de um lugar para outro.

Ahá! Um guarda-chuva! Uma sombrinha! Uma arma, capa protetora do mal que a chuva pode trazer. Não, não adianta. Hoje vi que guarda-chuvas não servem para nada, ou quase nada já que protegem bem a sobrancelha.

A calça começa a pesar com a água que ela já tem. A camisa idem. Meias com dois litros de água cada uma. Tênis que parecem bacias de pedicures.

Mas no fundo a chuva que por uns istantes te deixam irritado por estar todo molhado, instantes depois te transformam numa pessoa melhor, com uma energia diferente. Um contato involuntário com a natureza que hoje some das cidades. O vento que te molha com a chuva é o mesmo que seca a roupa no varal depois. O ar que movimenta e faz mover a vida.

Leitores amigos, todos passam por chuvas quase do mesmo tamanho da contada na estória de Noé e saem com sorrisos nos rostos. A chuva passa tão rápido se levado em conta o tempo que o vento fica batendo até secar tudo e depois de secar continua soprando...

Cai chuva forte dentro dos bancos, dentro do senado, dentro do país, dentro das estações de trem no Rio de Janeiro... Chove dentro de mim, chove dentro de você, dentro de quem você ama. Mas o vento vem, o vento virá. Melhor acreditar nisso...


Mas se você disser que o número 7 significa que a afta que tenho na boca nesse exato momento vai sumir assim que eu acordar, por que não acreditar também?


Sigam sonhando e sentindo o vento bater na cara ou te molhar com a chuva. E acreditando.
Acreditando que aqui na varanda o vento sempre faz bem.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

E a boa nova andar nos campos

"Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos, quero ver brotar o perdão onde a gente plantou juntos outra vez..."
Setembro? Sim, setembro meus caros. Essa não é a melhor canção para o primeiro dia após setembro terminar. Seria esperança demais por um novo setembro ou seria um problema forte na cabeça que me faz achar que setembro está chegando e não acabando de ir embora? Bem, queridos leitores, penso que um pouco dos dois e mais outras coisas.

A música é de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, para começar dando os devidos créditos. Hoje, primeiro de outubro, setembro acabou de ir embora. Foram 30 dias para escrever sobre o mês e, agora que acabou, aqui estou para falar dele. Não é algo como um conselho de classe das escolas nem um relatório de serviços feitos durante certo tempo. É só um mês que se foi e outro que chega.

Mas e quando entrar setembro? O mês traz a primavera (ou deveria trazer, em teoria, já que as mudanças climáticas andam estranhas), as flores, a beleza. É o tempo de renascer, de ressurgir, apagar a feiura das folhas caídas e levantar-se novamente, belo e forte. A primavera, tema de inúmeras poesias e canções. Sempre com uma metáfora tal qual em "primavera se foi e com ela meu amor". O que era belo acabou. Mas quando entrar setembro.. tudo vai mudar. Vai sim. Setembro vem aí.

Será que em 2001 aquelas pessoas imaginavam que quando setembro entrasse elas morreriam e o fato seria notícia em todo mundo? Imaginavam, provavelmente, que setembro entraria e, com as flores, mais vida. Nunca imaginariam que quando setembro entrasse e elas entrassem em um prédio um avião também entraria. Algo surreal ao pensar na poesia da primavera. "E a boa nova andar nos campos". Qual foi a boa nova nesse mês daquele ano? Sonhos que se foram em um setembro. "Muitos se perderam no caminho", continua a canção. A perda faz parte. Assim como aquelas pessoas foram para um lugar ainda desconhecido por nós, muitos setembros também se perderam no caminho.

E a indepêndencia que o mês trará? Ah, aguardo com ansiedade por isso. Quando entrar setembro a independência brasileira será total.. O sétimo dia do mês 7 do antigo calendário. O Brasil livre! Pensavam nisso meses antes da proclamação? Foi um setembro marcado na história e lembrado até hoje com aqueles desfiles políticos com crianças torrando no sol...

Quando entrar setembro... Setembro se foi. E é verdade aquela máxima "só damos valor depois que perdemos"?. Creio que sim em diversas situações. Setembro passou e nem percebi como foi bom pra mim. Agora foi embora e vejo que sinto falta dele... Mas a vida é assim. Vai embora um mês e vem outro. Outubro. Mas setembro voltará. Ainda terei chance de dizer a ele como foi bom pra mim.

Minha gente, nós somos os meses! Nós fazemos as primaveras e os outonos! As situações que a vida traz. Aguardamos por setembros, por janeiros, por novembros na expectativa de sermos melhores e aproveitar tudo que ele pode nos trazer e não fazemos. Pra que fazer já que logo logo outro mês de igual nome chegará?

E quando setembro chega e quer mudar tudo na sua vida? O que fazer? A primavera quer trazer uma nova flor que não estava nos planos, quer transformar, quer com uma brisa leve jogar o frio que existia para longe e plantar cores, perfumes. Esquecer tudo o que aconteceu no outono, quando as folhas estavam caídas, e correr em busca de uma flor? UMA flor apenas e nada mais. Você escolhe ou o vento te leva para o melhor caminho.

Siga suas estações e colha o que cada uma pode trazer. Aguarde setembro chegar com a primavera que você pode ter. Uma estação precisa da outra para existir. Assim somos também. Aguardamos a próxima sem saber o que pode chegar. São as surpresas, os encontros, os desencontros. Vamos aguardar setembro chegar então para ver a beleza da vida. Mas não esqueça que os outros meses sentem ciúmes, aplaudamos cada um deles quando chegarem e quando saírem, peçamos, façamos agradecimentos...


Setembro se foi e com ele o ENEM... Será que esperavam por isso? Uma virada de página gigante no último minuto do segundo tempo. É setembro com sua mania de mudar tudo de uma hora pra outra... Acostume-se.



Te vejo na varanda, com textos melhores que esse, espero...