quarta-feira, 3 de março de 2010

Perto da janela

Dizem que o ano começa depois do carnaval, não sei se é a realidade mas aproveito a deixa como desculpa para a falta de postagens. Penso que não seja a verdade, desde a última vez que escrevi aqui, quase nas últimas horas do último ano, muitas coisas aconteceram. Pouco tempo depois a chuva caiu e com ela alguns morros que destruiram uma ilha em Angra, aconteceram terremotos, começou mais um big brother, terminou A Fazenda, uns tais Solitários começaram e terminaram... e ainda teve tempo do carnaval existir no meio de tudo isso... Parece que entre os shows da realidade, foi a realidade que deu um show nesse recesso de início de ano prolongado. Sabem aquela de "só o tempo vai calar a minha dor"? Não tenho dor nenhuma, mas amigos, qual dor se calará primeiro? A das famílias destruídas ou do perdedor da prova do líder? Ah, não vim falar sobre isso... Oh, falando em calar a dor, já ia esquecendo... começaram nesse tempo também os campeonatos de futebol..
Na verdade, antes deste post já tentei algumas vezes escrever, mas perdia a ideia e já era... Mas como o ônibus é a minha sina e se acreditasse em outras vidas começaria a pensar na possibilidade de ter sido motorista no passado, foi uma notícia que vi hoje que me trouxe aqui. Contava que um homem foi assassinado por negar um pedido de outro. O pedido? Fechar a janela do ônibus pois estava ventando frio... O moço da janela se recusou a fechar e por esse motivo perdeu a vida.

Músicas, televisão e ônibus. Cheguei à conclusão que são esses três elementos que me fazem escrever mais. Na verdade, são o que eles trazem. É uma pena saber que não posso apenas escrever sobre "eu sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar", sobre entrevistas do Roda Viva e sobre as pessoas que falam coisas engraçadas perto de mim enquanto vou de um lugar ao outro... é uma pena que às vezes exista necessidade de citar um "vou te comer, vou te comer, vou te comer", modinha do carnaval, citar uma entrevista que não acrescenta nada do superpop e citar as coisas não tão boas que acontecem dentro de um ônibus.

É assim dessa vez. Gente, a que ponto tudo chegou? A humanidade, a violência, a incapacidade de um diálogo, a falta de entendimento.. É um ponto que podemos começar a não querer o vento batendo na cara pois o moço do corredor está armado. É um ponto que o diálogo não mais existe. É um ponto que tentar convencer ou ainda compreender o motivo de uma janela aberta não faz a menor falta. É um ponto que o último ponto da sua vida pode ser um ponto de ônibus.

Uma das coisas que tentei escrever certo dia e não consegui terminar foi sobre a minha incrível dificuldade com finais que percebi dias atrás. Tenho dificuldade com o fim de um ciclo e o início de outro. Não sei se medo, receio, vontade de que aquele que está acontecendo não acabe.. não sei, mas tenho essa dificuldade com certos finais. Sim, tudo um dia chega ao fim e assim tem que ser para que a humanidade evolua.. para que nós consigamos evoluir. Se minha alfabetização um dia não tivesse chegado ao fim eu não chegaria ao último ano do ensino fundamental e não teria sofrido com o fim deste para chegar no ensino médio. Se o ensino médio não chegasse ao fim, não estaria hoje em um curso superior. Há necessidade dos finais para a evolução. Tenho dificuldade, mas é preciso! O que tem acontecido é que alguns finais não precisam existir para a humanindade evoluir. Toda regra tem uma excessão, certo? A gentileza não precisa ter fim, o entendimento não precisa ter fim, a compreensão não precisa ter fim... Aquela vida, penso eu, não devia ter fim naquele momento.

A novela terminou ontem com um título sugestivo: Poder Paralelo. Parece que é isso que tem valor e que não deve ter fim.. o poder. O poder do assassino está na arma, sem ela ele é tão "fraco" quanto a vítima. Um tinha o poder de abrir ou fechar a janela, o outro tinha o poder de pedir e tentar convencer. O primeiro pode abrir mas não pode fechar. O segundo preferiu mostrar que era mais forte. Depois disso, saiu e fugiu.

Quando sentar no lado da janela? Quando sentar no lado do corredor? Um medo novo pra nossa coleção: medo de fechar a janela ou deixar aberta quando alguém pedir. E ficar sem o vento? Ah não.. sem o vento não... o vento que chega tão bom aqui na varanda, que traz e leva as coisas.. o vento que ele sentiu no rosto pela última vez.

Que o vento não leve essa mesma ação quando alguém do corredor pedir um pão e o ser humano da janela não der; quando o da janela se recusar a emprestar o celular; quando pedir para ler uma frase e o outro não conseguir... Pode ser que ele se recuse a ler por ser analfabeto, mas os humanos fortes, aqueles do corredor, não ligam para isso.. é um detalhe... Enquanto isso os humanos da janela vão sofrendo, vão morrendo, estão sumindo...


Mas o vento está aqui, o vento esteve lá... Seria culpa do vento? Não, não... ele não escolheu onde ficar..

Abraços, bons ventos.