Hoje resolvi acordar mais cedo só pra escrever pra você, meu amigo Felipe. Dizem que as meninas amadurecem mais cedo, antes de vocês, e eu acho que é verdade. Nossa turma já passou dos 12, 13 anos, e eu já comigo ver coisas que antes não via. Felipe, lembra da nossa primeira série? Eu apaixonada pelo Mateus... coitada de mim. Paixão de criança, você sabe. Sei que você não é como os demais, te conheço desde sempre, né? Quantas vezes já rimos juntos, na escola ou fora dela. Outro dia morri de rir com aquila foto que você me mandou no msn da Aninha com aquela peruca amarela... ai ai. Então Felipe, tô escrevendo porque acho que já amadureci e tomei coragem de falar certas coisas. Falei lá em casa outro dia sobre namorar. Minha mãe disse que é muito bom, mas se for com a pessoa certa. Ela disse que não pode me segurar, mas falou muito comigo, deachar a pessoa certa, não ser qualquer um, ter certeza, coisa e tal... e levar pra almoçar lá em casa casa quando eu tiver um, porque ela vai querer conhecer [e meu pai vai morrer de ciúme da princesinha dele, claro, por isso meu namorado vai ter que cuidar muito bem de mim... kkkk]. Felipe, você é meu amigo. Mas já percebeu que a gente pode ser mais? Se você não percebeu, nem ligo, vocês meninos são assim mesmo. Mas se já percebeu, é, bem, Felipe, quero namorar você. Ai, pronto,falei. :$ :$ :$ , se pudesse colocaria aquela carinha de vergonha do msn aqui. Andei pensando, a gente não tem nada a perder, eugosto de você, você gosta de mim. Se tiver a fim de alguém, eu entendo, mas resolvi falar isso hoje. Minha vida tá começando agora. Nossas vidas, aliás. Quero ter sempre sua amizade. Mas e se puder ser mais?... Bem, quero também fazer faculdade, quero um carro, quero muitos sorvetes, quero maquiagem e quero aquelas roupas chiques de uma revista que vi outro dia. Quero muitas coisas. Mas como disse, a vida tá só começando... E estou começando a buscar as coisas que quero, a sonhar.. e hoje sonho com você. Vou te entregar essa carta depois do recreio, 9 e meia. Depois da aula fico esperando sua resposta. Passa na minha sala. Nem precisa falar que é no segundo andar, né, você já sabe. Qualquer coisa, a gente marca de sair um dia desses, me levar pra casa depois da escola e comer alguma coisa no caminho... aqui em Realengo tem coisas gostosas pra comer. Como amigos, ou namorados. Bjs de alguém que está no começo da vida e se descobriu apaixonada. Uma brasileirinha que, agora, quem sabe, pode até chegar a ser presidente...rs.. e voce meu 'primeiro damo'. Rio de Janeiro, 7 de abril de 2011
Amigos do Vento, a varanda volta a ter movimento. Preguiça, falta de assunto, coisas a fazer, bem, não sei o motivo mas nada voou por três meses... Mas voltei. E agradeço ao Gomelli e a Marina pelos recados. Companheiros blogueiros de melhor qualidade esses que me acompanham e que eu acompanho...rs A carta acima é pura ficção com um sopro de realidade. Em nada mais se fala na tv e na internet e amanhã estará em todos os jornais o caso do rapaz que entrou em uma escola e assassinou jovens estudantes. Não foram Kenny, Ashley, Brian, Tom e Cindy; não foi em outro país. Não foram Manoel, Silvia, Sandra, Raul, Edson e Ivone; não foi algum tempo atrás, com gente com esse nome. Foi hoje! Foram Luiza, Larissa, Bianca, Rafael, Mariana e mais alguns. São nomes de gente nova, jovens e foi em uma escola, e foi aqui no país rico, país sem probreza, e foi inimaginável, e foi pela manhã, e foi notícia, e foi um absurdo. E foram... Foram sonhos, foram amizades, foram filhos, foram irmãos, foram os que odiavam matemática, os que odiavam português. Foram os que tinham orkut, os que tomavam refrigerante, reclamavam da mãe e contavam segredos para as amigas. Foram os que poderiam ser arquitetos, médicos, advogados, jornalistas, eletricistas, secretarios, vendedores. Foram sonhos, foram as primeiras paixões, foram sem descobrir o quanto ruim é crescer. Foram sem marcar data de casamento, foram sem fazer um currículo, sem ter a própria família ou juntar dinheiro para comprar o primeiro carro. Foram embora cedo demais. E só foram pra escola, nada mais. Não penso ser culpa do Estado, do município, da Dilma, do Lula, do Vargas, do Juscelino... Não foram os professores nem funcionários da escola, o padeiro, o vereador, o tsunami nem um remédio errado. Foi um de nós. Um de nós humanos quaisquer. Um sopro e bum! Quando digo que cansei de tentar nos entender, pessoas assim fazem desistir totalmente de conseguir tal proeza. Que os ventos sigam e que as escolas nos ensinem a sermos humanos para que nelas não deixemos de ser. E para os jornalistas e aprendizes, parabéns pelo dia. Bons ventos. Até a próxima.