Recentemente li o brilhante 'Ensaio sobre a cegueira' do genial José Saramago. Diferente de tudo que havia lido antes foi essa obra. O começo da leitura de Saramago causa desconforto pela não convencional forma de escrita. A pontuação a princípio causou uma confusão, confesso, mas o desconforto inicial passa a ser conforto quando a obra começa a envolver. A história daquelas pessoas sem nomes. A história daquelas pessoas em um lugar qualquer do planeta. Comecei a me transportar para o livro e depois de certo tempo de leitura o medo de cegar subitamente já estava em mim de tão envolvente e real que é aquela ficção. Logo depois que acabei de ler assisti o filme baseado nesse romance.
Com direção de Fernando Meirelles, o filme em nada deve ao livro. O mundo que criei pra mim ganhou as imagens que havia imaginado. O longa segue fielmente o roteiro/livro. Aos que ainda não assistiram nem leram, ficam as dicas.
Rapidamente: na obra, o mundo passa por um surto de cegueira. As pessoas ficam cegas de um segundo para outro. Deixam de enxergar e passam a viver com uma explosão de luz dos olhos. Sim, a cegueira não é a escuridão, as personagens enxergam uma luz branca que nunca apaga. E a cegueira vai contagiando as pessoas, uma por uma. Por contato ou mesmo sem encontrar com alguém contagiado a humanidade ficou cega. Sem mais detalhes sobre essa parte, mas a partir do momento que consideram como um surto de cegueira os problemas começam a aparecer. Problemas que antes não existiam. Uma luta pela sobrevivência sem se apegar a imagens. Os contagiados eram excluídos da sociedade e ficavam separados da parte humana que enxergava.
Agora vejo notícias sobre a nova gripe. Gripe suíne ou nova gripe, tanto faz. Um vírus da gripe que em algum momento ficou diferente dos demais. O mundo muda, tudo muda. Um vírus também muda... Não quero comentar nada sobre formas de contágio ou prevenção e nem sei ao certo número de mortes confirmadas ou com suspeitas do tal vírus. Em nada interessa nesse texto essas informações.
No começo de tudo podia parecer divertido para os estudantes: uma escola suspendeu as aulas por um aluno estar com suspeita do vírus. Oba! Sem aulas. Sem aulas para que o já possivelmente contagiado não passasse o vírus aos outros. Não é um motivo tão grande alegria assim. Aconteceu em uma escola, em duas escolas, em três escolas... milhares de alunos sem aulas. Tudo para evitar contato com o contagiado ou com o memso ar que o contagiado respirou.
Fotos mostram diariamente pessoas com máscara cirúrgica para se protegerem do vírus. Locais lotados de gente. Lotados de gente que precisam estar naqueles locais lotados mas não querem a gripe. Usam a máscara. A simples e comum máscara que por sinal até onde sei não serve para proteção contra a nova gripe. Um se protegendo contra o outro. Contra o que o outro pode lhe causar.
Poucos minutos atrás fiquei sabendo que algumas diaceses paulistas já recomendam que os fiéis não se toquem durante as celebrações. Tudo para evitar o contágio.
Parece que Saramago estava possuído de uma cegueira que vê o futuro quando inspirou-se para escrever a obra citada. Excluídos do convívio social ficaremos. O medo aumenta e a humanidade diminui. Será que há necessidade de ficarmos cegos por trás de máscaras cirúrgicas?
Antes que digam: não, não sou nenhum super heroi mega ultra protegido contra vírus, não é isso. Apenas acho em alguns casos um exagero midiático. Um exagero humano. Exagero político.
Enquanto isso aguardamos o fim da obra que Saramago previu. Aguardaremos o momento em que os gripados, desde um simples resfriado, fiquem em abrigos convivendo uns com os outros. Sobrevivendo. Aguardemos até que o primeiro espirro venha sobre nós. Até que a tosse chegue e a cegueira, não branca nem negra, não nos olhos, mas com máscara cirúrgica nas vias respiratórias, tome conta.
Atchim!
"Sua visão de mundo nunca mais será a mesma"
Saúde!
Saúde!
Te vejo na varanda. Se a gripe não nos pegar também...
Muito bom o texto, o paralelo com a gripe A foi interessante. Recomendo o documentário "Janela da Alma" (não lembro o nome do diretor, mas é um trabalho recente)para complementar, trata do desafiante visual na realidade, o dia-a-dia. O livro é sem igual, muito bom. Quanto ao filme, guardo algumas ressalvas, creio que não conseguiu passar as mesmas sensações e impressões da obra literária.
ResponderExcluirConcordo sobre o pânico plantado pela mídia, principalmente a televisiva, sobre a gripe A. Do que vi/li/ouvi a respeito, poucas são as empresas de comunicação que trabalham com o foco na prevenção e na orientação da população. O que se vê realmente é um jogo: de um lado o número de mortos que cresce "assutadoramente" e de outro, a população já pedindo aos céus o perdão pelos pecados...prevenção sempre, paranóia não.
É isso, mais uma vez, parabéns a todos o Vento na Varanda está muito bom!!!
Gostei muito do texto que encontrei na minha primeira vizita. Aquele velhinho, o Saramago, bem que tem mesmo um ar de vidente e foi muito feliz com aquela divina obra, devo confessar! Adoro o filme e o livro também, enfase para o livro que levou o nobel de literatura!
ResponderExcluirO paralelo a gripe foi convidativo. Acho que sou meio paranóico. E num mundo de cego quem tem olho é rei... aproveito meu olho que pensa ver tudo, e dedico um aplauso ao autro desse texto! E justifico também minha ausência caso eu suma... cuidado com o caos que nos espera!
Abraço!
Estou sem palavras, fantástico seu texto Fred. Parabéns! Se antes já tinha vontade de ver esse filme(porque um amigo já tinha comentado), agora tenho muito mais. E realmente o paralelo com a gripe foi brilhante. Sucesso prá vocês, vocês merecem! Abraço
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