quarta-feira, 8 de julho de 2009

Entrei no ônibus errado

Há tempos que ônibus me fascinam. Isso mesmo, ônibus. Transporte coletivo. Não sei se me fascina pela parte do transporte ou pela do coletivo. Ou se é o conjunto da obra que me traz algum encanto.
Só para antes de tudo deixar um ponto registrado: odeio multidões. Então já saibam que não sou nenhum fã de ônibus cheio, se tiver com tempo até espero por outro, e por outro, e por outro... Mas tirando tal situação, o ônibus passa pela vida de muita gente e a maioria nem repara na beleza escondida nele.

No começo pode parecer difícil encontrar essa beleza mas não é. Afirmo com quase toda certeza que todo aquele que usou tal serviço passou pelas mesmas coisas acontecidas em um longo ou rápido trajeto de um lugar a outro.

Pois bem. Pessoas indo ou vindo. Pessoas indo e vindo. Cada uma diferente de outra. Alguns são vizinhos, alguns outros são namorados, pai e filhos, mãe e filhos, irmãos,... mas levando em conta o todo, o ônibus acaba por ser um lugar de pessoas desconhecidas que em determinado momento do dia se encontram. Se encontram e na maioria das vezes não se encontram. Encontram sem se encontrar.
Enquanto um rapazinho recebe o vento vindo da janela com soriso no rosto por estar certo de que aquela foi a melhor entrevista de emprego que ele teve e que é quase certa sua contratação, no banco de trás um senhor de meia idade recebe aquele mesmo vento pensando nos próximos dias sem o emprego que perdeu pouco minutos atrás.
Do lado direito há uma senhora conversando com uma moça jovem. Se conheceram ali no ponto. A senhora perguntou as horas e agora dentro do ônibus elas já descobriram conhecidos em comum. O namorado da moça jovem é filho de uma ex aluna da senhora.
Lá nos últimos bancos uma senhor se incomoda com o barulho da criançada que acaba de sair da escola. Mal se lembra que ele já foi assim.

Observar é o que mais faço dentro de um ônibus. O que me encanta no momento que alguém grita no celular dizendo "Já estou dentro do ônibus. Hein? Não to ouvindo direito, fala mais alto" não é essa pessoa gritando. Essa pessoa gritando com o celular é desequilibrada, disso eu já sei, mas gosto de ver as pessoas se desequilibrando para ver a moça desequilibrada. Reações das mais diversas.

As pessoas desconhecidas se unem. Alguém está ficando para trás e o motorista não viu. Há uma gritaria dentro do ônibus para que dê tempo da pessoa chegar e não perder a condução. Solidariedade com um desconhecido. Um desconhecido que não tem um rosto estranho. Sempre naquele horário, na mesma linha de ônibus, não há como esquecer de certos rostos.

Escrevo isso após estar em um ônibus e uma senhora pedir para o motorista parar o veículo porque ela estava no ônibus errado. Não escrevo por pena da pessoa que provavelmente gastou mais dinheiro com a passagem do ônibus certo. Escrevo porque depois daquilo as pessoas comentavam que o mesmo já havia acontecido com elas.

É aí a parte fascinante. Os desconhecidos que criam um elo com um desconhecido para se conhecerem. Uma "amizade" que durará alguns minutos. Um único tema na conversa. Talvez dois [não podemos nunca esquecer do tema básico de toda conversa de ônibus "o tempo mudou, o calor que está fazendo, a chuva que caiu"]

Uma lotação que se entende. Pessoas que pagam e outras que a idade já permite que não paguem. Uma cumplicidade estranha. Desconhecidos que se conhecem e voltam a tornar deconhecidos. Um motorista na direção. Verdades e mentiras contadas a estranhos. A beleza da convivência.

Alguns segredos ficam, é claro, não há necessidade de contar a vida inteira para estranhos. Desde o acordar até aquele segundo de respiração. É apenas uma "coincidência" aquelas pessoas naquele lugar. Não escolhemos quem vai entrar ali. Não escolhemos quem vai ficar do nosso lado. Não escolhemos que histórias vamos ouvir por alto. Não escolhemos em quias vamos nos aprofundar. Não escolhemos...
Saber de tudo não interessa...

Já no Senado...


Te vejo na varanda.

2 comentários:

  1. Você tem gostos estranhos,,,,hauahuahaa,,,,bom texto...

    ResponderExcluir
  2. Não tem nada! Huahuaahuhauhau
    Andar de ônibus às vezes chega a ser divertido, Coração. Cabe várias postagens só com anedotas de coletivos, o que falta é espaço! Fato! Huahahauhha

    ResponderExcluir